A PERSEGUIÇÃO. Capítulo 18 - A ajuda de Charles.

Charles tinha certeza de que havia alguma coisa errada. Estava consciente da presença de Carolina desde que ela entrara na fábrica. Havia uma diferença nela, um senso de orgulho, que a distinguia dos outros. E era óbvio para Chaz que não se tratava de uma operária comum. Ela possuía uma incrível habilidade. Ele tentou analisar o que o perturbava naquela garota. Carolina tinha a aparência de alguém acostumada a coisas boas, e no entanto usara as mesmas roupas por dois dias consecutivos. E exibia uma cautela nervosa que o deixava intrigado.
Havia ainda aquela história de a garota não comer. Charles a vira observando os outros e percebera a fome em seu rosto. E sua curiosidade aumentava a cada momento que passava, será essa a pessoa pela qual o faz trabalhar naquela fábrica? Chaz também trabalha para o FBI, mas seu departamento não é o mesmo que o de Justin, é um departamento "fraco" em comparação com o de Justin, um nível a menos. O departamento de trabalho de Justin Bieber dentro do FBI é de nível elevado. Charles tem apenas observado as pessoas dentro da fábrica, fotografando coisas escondidas. Há uma suspeita de que há um criminoso trabalhando ali, por isso foi posto a trabalhar nas Industrias Batista.
Carolina tinha a impressão de que Chaz a examinava discretamente, mas ele desviava o rosto cada vez que o fitava.  As três horas houve um intervalo para o café. Os operários largaram as ferramentas e saíram para comprar lanche nos caminhões de comida estacionados lá fora. Carolina foi sentar-se num banco vazio, tentando esquecer a maneira como seu estômago roncava, esperando a campainha para retornar ao trabalho. Um momento depois , Chaz sentou-se ao seu lado. Trouxera duas xícaras de café e dois sonhos.
- Pensei que você poderia gostar partilhar isso comigo - murmurou ele.
Carolina fitou-o em silêncio por um momento, pensando em recusar, mas a tentação era irresistível.
- Obrigada - murmurou ela, polida.
Pegou uma xícara e um sonho, esperou que Chaz desse uma mordida no seu. Só depois é que Carolina levou o sonho à boca. Era a melhor coisa que já provara em toda sua vida. A vontade era devorá-lo num instante, mas tratou de se controlar. Tomou um gole do café, e o líquido quente, escorrendo pela gargante, tinha um sabor maravilhoso.
Os dois ficaram sentados ali, comendo em silêncio. Charles estudou Carolina. Havia nela uma intensidade que ele jamais reparara em qualquer outra garota. Ela parecia cordial e franca, mas ao mesmo tempo o rapaz sentiu que ela era uma pessoa bastante retraída.
- Da onde você é? - perguntou ele.
Carolina hesitou apenas por um instante.
- Brasil.
Ele nunca veria a ficha no departamento pessoal que dizia Chicago.
- Meu pais nasceram no Brasil - comentou Chaz - Mas sou canadense, nasci e vivi lá.
- Já esteve no Brasil?
- Não.
Carolina suspirou, dominada por uma nostalgia entre amarga e doce.
- É um lindo país.
Ela se perguntou se algum dia tornaria a vê-lo, se algum dia voltaria à sua casa.
- Tenho certeza que é. Espero um dia ir até lá. Sua família está aqui com você?
Carolina hesitou outra vez. Não tinha o menor desejo de mentir para seu novo amigo, mas a verdade era perigosa.
- Está sim.
E, de uma maneira terrível, era verdade. A mãe e o pai estavam com ela, dependiam dela. Não teria paz enquanto não lhes proporcionasse um funeral apropriado.
Carolina olhou para Charles e teve um profundo pressentimento de que os dois poderiam se tornar grandes amigos. Não, pensou ela, sincera, mais do que bons amigos. Mas isso nunca aconteceria. Tais sonhos eram para os outros, não para ela. Devia pensar apenas numa coisa: sua sobrevivência.
O som da campainha assinalou o final do intervalo para o café.

Nenhum comentário:

Postar um comentário