A PERSEGUIÇÃO. Capítulo 32 - Ao final, Carolina seria capturada.

Era noite, uma lua cheia amarela desfilava pelo céu, por cima da faixa de estrada que se projetava sob as rodas da Ranger Rover. Carolina observava as luzes distantes das casas de fazendas.
- Ainda estamos em Indiana? - perguntou ela.
- Illinois. - Justin cutucou o GPS - Estamos aqui. - Ele indicou um ponto no mapa e acrescentou: - Vamos atravessar Missouri e Oklahoma, cruzar este pedaço do Texas, entrar no Novo México, passar por Arizona, Nevada e Califórnia. São mais de três mil quilômetros.
Carolina fitou-o com os olhos arregalados.
- E podemos percorrer toda essa distância em três dias?
- Não se esqueça de que mantemos o carro rodando dia e noite. Mantemos poucas horas de descanso, horas suficientes para que eu possa dirigir bem.
Carolina tornou a contemplar a paisagem.
- Este é um país grande, muito maior do que o meu.
Mas como meu país é lindo!, pensou Carolina. Lagos cintilantes, rios e cachoeiras. Sentia saudade das flores de cerejeira, das pessoas sentadas sob as árvores dos parques, sentia saudade de passear por uma das mais lindas praias, junto com os amigos. Queria muito voltar para o Brasil.
A única questão era se voltaria viva ou morta. E pensou em Roberto.
[...]
Naquele momento, Roberto pensava em Carolina. A jovem tornara a escapulir de suas mãos. Tornara-se um jogo de gato e rato, uma batalha de inteligência entre os dois. Roberto sabia que era apenas uma questão de tempo. Ao final, Carolina seria capturada. E punida. Roberto virou-se para Alex Gama, o chefe de segurança das Indústrias Batista.
- A jovem não pode ter desaparecido em pleno ar - disse ele - Tem de ser encontrada. E por nós. Não quero o envolvimento da polícia americana. Foi um erro da minha parte ter metido a polícia no caso. É um problema de família.
- Eu compreendo, senhor.
- Faça qualquer coisa que for necessária. Contrate mais homens. Dobre a recompensa. Não poupe nada. Traga minha sobrinha para cá.
O rosto de Roberto era uma máscara sinistra, os olhos pareciam lascas de gelo.
- Ela é perigosa. Já assassinou uma pessoa. Se não puder ser capturada viva, então traga-a morta.
[...]
O tenente Matt Brannigan passou uma noite irrequieta. Incapaz de dormir, saiu da cama às três horas da madrugada, tentando não despertar a esposa. Mas ela ouviu o movimento e acendeu o abajur na mesinha-de-cabeceira. 
- Qual é o problema, Matt? Indigestão? 
- Estupidez. Posso ter mandado uma jovem inocente para a morte. - Ele passou a mão pelos cabelos grisalhos. - A jovem tentou me explicar tudo, Cathy, mas não lhe dei atenção. E, com isso, talvez a tenha entregado nas mãos do homem que queria matá-la.
- Não tem certeza?
- Não. Saberei dentro de poucas horas. Mas a situação não me agrada. Se estou certo, talvez a garota já tenha morrida a esta altura. E será difícil para mim conviver com isso.
- Por que não tenta dormir um pouco? Está lutando contra sombras.
Só que as sombras não se dissipavam.
[...]
Quando o tenente Matt Brannigan entrou em sua sala, encontrou na mesa o relatório que pedira. Leu-o duas vezes, a primeira depressa, e a segunda bem devagar, sem perder uma única palavra. Por mais incrível que pudesse parecer, a garota dissera a verdade. Herdara o vasto império Batista. Mas, segundo o testamento, tudo passaria para o tio se ela morresse. Matt Brannigan já conhecera homens que matavam por dez dólares, ou mesmo por uma garrafa de uísque. Não era preciso muita imaginação para calcular o que um homem seria capaz de fazer para conquistar um império de valor inestimável. Roberto Sato devia ter conhecimento do testamento desde o início. Tramara o acidente com o avião, prevendo que depois de liquidar Eike Batista seria mais fácil se livrar da filha. Com a ajuda de Brannigan, quase conseguira. A garota o procurara, em busca de socorro, e ele a entregara a seu inimigo. Agora, de alguma forma, tinha de encontrar Carolina e salvá-la. Se é que Carolina ainda estava viva. Essa era a primeira coisa que precisava descobrir. Ligou para a central de computação da polícia, em Manhattan.
- Aqui é o tenente Matt Brannigan. Foi emitido um boletim de procura-se para uma certa Carolina Batista, uma jovem brasileira de dezoito anos. Pode verificar se ele já foi cancelado?
- Espere um momento, tenente. - A telefonista voltou à linha um minuto depois. - Ainda não, tenente.
- Obrigado.
Matt Brannigan desligou, com um sentimento de alívio. Se o boletim de procura-se continuava em vigor, isso significava que Carolina ainda não fora encontrada. Tinha de descobri-la antes de Roberto Sato. Era uma corrida contra o tempo. Ele tocou a campainha, chamando seu assistente. 
- Traga-me tudo o que temos sobre o caso Batista.
Cinco minutos mais tarde, ele estava lendo o depoimento de Twist sobre Charles Sommers.
Ao terminar, o tenente foi para seu carro e seguiu para a fábrica Batista em Queens.
[...]
Chaz não conseguira tirar Carolina de seus pensamentos. Tinha certeza que Carolina lhe contara apenas uma parte da verdade, e que ela se encontrava numa terrível enrascada. Chaz faria qualquer coisa para ajudá-la, mas agora ela desaparecera. Nem mesmo sabia se Carolina estava morta ou viva. Recordou como Carolina se mostrara excitada no jogo de beisebol, torcendo para os dois lados. Pensou em seu sorriso, como ela era gentil.
- Charles!
A voz arrancou-o do devaneio. Levantou os olhos para deparar com o capataz, o Sr. Twist, parado à sua frente.
- Pois não, Sr. Twist?
- O Sr. Watkins quer falar com você. Imediatamente.
- Está bem, senhor.
Charles entrou na sala do gerente de pessoal, especulando sobre o motivo de chamada. Havia outro homem na sala, alguém que Chaz nunca vira antes, mesmo não estando a tanto tempo na fábrica. Instintivamente, ele percebeu que o homem era da polícia, e assumiu uma posição de cautela. Watkins disse:
- Charles, este é o tenente Brannigan. Ele quer conversar com você. - Watkins levantou-se. - Deixarei os dois sozinhos.
- Obrigado. - O tenente Brannigan virou-se para Chaz. - Sente-se, por favor.
Chaz sentou-se, tentando disfarçar seu nervosismo, pois sabe que teria de mentir para o tenente, o que poderia dar uma confusão se alguém descobrisse a mentira já que era um agente do FBI. O rapaz estava pensando em se demitir da empresa, largar o disfarce e abandonar o caso.
- Soube que você e a jovem Carolina eram amigos.
- Não, senhor.
O tom de Chaz era firme. Matt Brannigan fitou-o com uma expressão cética.
- É mesmo? Trabalhavam juntos, não é?
- Sim, senhor.
- Não conversavam durante o trabalho?
- Não, senhor.
O detetive inclinou-se para a frente.
- Mas conversavam quando almoçavam juntos, todos os dias?
Portanto, ele sabia disso. O que significa que o investigara.

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