A PERSEGUIÇÃO. Capítulo 22 - Lá está ela!

Por um terrível momento, Carolina ficou imóvel, a mente e o corpo paralisados pelo medo. Seu primeiro pensamento foi o de que o tio descobrira seu esconderijo e viera buscá-la. Mas enquanto observava, percebeu que Twist conduzia Roberto pela linda de montagem, explicando a operação. Portanto, a visita do tio nada tinha a ver com ela. Roberto ainda não vira Carolina, mas dentro de poucos momentos ficariam frente a frente. Carolina tomou uma decisão rápida. Assim que Roberto e Twist se aproximaram de sua mesa de montagem, Carolina deslocou o cotovelo e derrubou no chão um quadro de circuito. Abaixou-se no mesmo instante, oculta pela mesa, para recolher os componentes esparramados pelo chão.
- Ei, você, tome cuidado! - berrou Twist.
- Desculpe - murmurou Carolina.
Ela estava de quatro no chão, as costas viradas para os dois homens, pegando as peças. O coração batia forte, a respiração era acelerada. Se o tio a reconhecesse, Carolina poderia correr, mas sabia que não iria muito longe. Uma palavra, e os outros operários a pegariam. Ela levantou os olhos e constatou que Chaz a observava, com uma expressão de perplexidade. Ele a vira derrubar o quadro de propósito.
- Eles já foram? - sussurrou Carolina.
Charles olhou para a porta no outro lado, por onde os dois homens passaram.
- Já, sim.
Carolina levantou-se, devagar, banhada de suor.
- Está metida em alguma encrenca? - indagou Charles, baixinho.
A encrenca em que ela se encontrava era muito maior do que Charles jamais poderia imaginar!
- Não - respondeu Carolina - Eu apenas... Foi um acidente.
Soava fraca é para seus próprios ouvidos. Os ternos olhos castanhos de Charles ofereciam apoio e amizade.
Carolina forçou-se a voltar ao trabalho, mas a falsa sensação de segurança desaparecera. Em seu lugar, havia um sentimento de raiva. Roberto Sato excursionava por seu novo império, agindo como se lhe pertencesse. E, com Carolina fora do caminho, seria mesmo dele. Carolina nunca se sentira tão impotente em toda a sua vida.
Cada vez que alguém abria a porta, ela se apressava em olhar. Roberto poderia voltar a qualquer momento. Charles observou o estranho comportamento de Carolina, mas não disse nada. Fitou-a, esperando uma explicação, querendo ajudá-la, mas ela se manteve em silêncio. Sentiu que o rapaz ficava magoado por seu silêncio, mas nada havia que pudesse fazer. O problema era só seu.
Roberto não voltou naquela tarde, nem no dia seguinte, nem no outro, e Carolina começou a respirar aliviada. A visita fora apenas para inspecionar a fábrica. Era evidente que Roberto não fazia ideia de que a sobrinha se escondia ali. E era improvável que retornasse à fábrica. Portanto, de certa forma, estou mais segura do que nunca, pensou Carolina.
Sexta-feira era o dia do pagamento. Ela receberia o cheque e partiria para a Califórnia. Perturbava-a a perspectiva de deixar Chaz. Sabia que sentiria a maior saudade. E teria de ir embora sem qualquer explicação, desaparecendo como um ladrão na calada da noite. Talvez um dia pudesse explicar.
         Se sobrevivesse.
[...]
Ao final da tarde de sexta- feira, os operários entraram em fila no guichê do caixa para receber os cheques semanais. Charles se encontrava quase na frente da fila, com Carolina alguns passos atrás. Ela observou Chaz  receber um envelope com  o cheque e um pedaço de papel. Ele olhou para o papel e empalideceu. Virou-se apressado, aproximou-se de Carolina e sussurrou:
- Você tem de sair daqui!
Ela ficou aturdida.
- Por quê?
- Venha comigo! Depressa!
Chaz ergueu o papel em sua mão, para que Carolina pudesse vê-la. Era uma fotografia sua, com uma legenda que dizia PROCURA-SE e RECOMPENSA. Estava sendo distribuído a todos os empregados.
Charles pegou o braço de Carolina. Tentando se comportar com o máximo de naturalidade possível, eles se encaminharam para uma porta lateral que dava para uma viela. O instinto de Carolina era correr, mas sabia que isso seria  fatal. Passara uma semana trabalhando junto de algumas daquelas pessoas. Conheciam seu rosto. Poderia ser reconhecida a qualquer momento. Forçou-se a andar devagar, esperando a qualquer instante ouvir uma voz gritar : Lá está ela! Peguem-na! Mas alcançaram a porta e saíram.
- Tenho que deixá-lo aqui - murmurou Carolina. 
Ela não tinha ideia de onde poderia se esconder. Estava convencida de que Roberto distribuíra a fotografia em todas as fábricas Batista do país. Agora, não ficaria segura em parte alguma.
- Para onde você vai?
- Não sei.
Os dois caminhavam pela viela, afastando-se da fábrica.
- Vou levá-la para minha casa - anunciou Chaz - Nunca a procurarão ali.
Carolina sacudiu a cabeça.
- Não posso deixá-lo se envolver nisso.
- Já estou envolvido.
Carolina fitou-o, sem compreender, a mente povoada por pensamentos de sobrevivência.
- Venha comigo, por favor.
- Não. - Carolina virou-se para ele. Era o momento da verdade.- Sou procurada pela polícia. - Ela respirou fundo, e arrematou: - Por assassinato.
Não pode ser, não pode ser por causa dela que fui me empregar naquela fábrica para investigar que era o assassino de uma pessoa. Carolina não seria capaz, eu não posso prende-la!, pensou Chaz. 
Charles estudou-a por um momento enquanto pensava.
- Você é culpada, Carol?
- Não.
Ele sorriu.
- Eu sabia que não. - Chaz pegou a mão de Carolina. - Vamos embora.

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