Theo Abraham chegou às onze horas da manhã. Era difícil calcular sua idade, pois tinha uma aparência ressequida, como se tivesse sido mumificado há muito tempo. Seu comportamento era incisivo e meticuloso. Ofereceu condolências a Carolina e seus tios, e depois entrou na questão que o levara até ali - a leitura do testamento. Os quatro foram para a biblioteca. Abraham sentou-se por trás da mesa e os outros se acomodaram em cadeiras confortáveis na frente.
Abraham iniciou a leitura do testamento. Carolina sabia que deveria prestar atenção, mas ainda se sentia atordoada demais pela inacreditável tragédia. Não se importava com o que havia no testamento. O advogado não parava de falar em voz monótona, e Carolina descobriu que seus olhos começavam a fechar de exaustão. O advogado bateu com a palma da mão na mesa e Carolina despertou, sobressaltada.
- Então é isso! - Exclamou Abraham. - Para resumir, as Industrias Batista, todas as suas subsidiárias e todo o seu patrimônio foram deixados para Carolina Batista. No caso de sua morte prematura, as Industrias Batista se tornarão propriedade de Roberto Sato.
Carolina se encontrava completamente desperta agora, espantada com o que acabara de ouvir. Um dos maiores impérios industriais do mundo agora lhe pertencia. Era difícil acreditar. Tio Roberto, é claro, dirigiria a companhia e lhe ensinaria tudo, até que tivesse idade suficiente para assumir o controle. Mesmo assim, a enormidade daquilo era sufocante. Tio Roberto lhe falava, e Carolina fez um esforço para se concentrar.
- Seu pai planejou tudo com a maior sabedoria, Carolina. Você continuará em sua tradição. Enquanto isso, farei tudo o que estiver ao meu alcance para ajudar e orientar você.
Carolina acenou com a cabeça, agradecida.
- Obrigada, tio. Sem sua ajuda, eu ficaria perdida.
O Sr. Abraham levantou-se.
- Preciso voltar à cidade. Pedirei imediatamente a homologação do testamento.
Angela observada Carolina com a maior preocupação.
- Você parece exausta. - Disse ela. - Por que não vai se deitar?
- Talvez seja melhor.
Carolina também se levantou, sentindo-se tonta pela falta de sono e a tensão emocional. Acontecera muita coisa, e muito depressa. Despediu-se do advogado e subiu para seu quarto. Deitou-se na cama, cansada demais para tirar as roupas.
E pegou no sono quase que no mesmo instante.
Estava escuro quando Carolina abriu os olhos. Desperdicei um dia inteiro, pensou ela. Tencionara ajudar Roberto a tomar as providências necessárias, mas agora era tarde demais. E refletiu que deveria pedir desculpas ao tio. Levantou-se, o corpo um pouco rígido da cama, e saiu para o corredor. Começou a descer, ainda meio adormecida. Voltariam para São Paulo amanhã. Quando os amigos a interrogassem sobre os Estados Unidos, só poderia lhes contar que vira um aeroporto, uma casa e um lago. Mas algum dia, quando estivesse dirigindo as Industrias Batista, retornaria à América do Norte para uma visita apropriada, como o pai gostaria.
Carolina ouviu vozes na biblioteca e seguiu para lá. O tio e a tia conversavam, as vozes alteradas. Carolina já ia entrar na biblioteca quando ouviu o tio mencionar seu nome. Parou, não querendo interromper. A tia disse alguma coisa que ela não entendeu, e o tio protestou, em voz irada:
- Não é justo! Ajudei a construir a companhia, dei anos de minha vida e mereço ficar com tudo!
- Eike sempre foi muito generoso com você, Roberto. Ele... - Angela é interrompida pela voz alterada do marido.
- Seu irmão nunca gostou de mim! Nunca! Se gostasse, não teria deixado a companhia para Carolina.
- Carolina é filha dele.
- Não passa de uma criança. Como poderá dirigir a companhia?
- Agora não pode, é claro, mas um dia terá condições. Com sua ajuda, ela pode.
- Não seja tola, Angela. Por que eu deveria ajudar Carolina, a fim de que ela possa me roubar a companhia? De jeito nenhum. É injusto. Nunca permitirei que isso aconteça.
- Não há nada que você possa fazer. Segundo o testamento... - Novamente sendo interrompida por seu marido.
- Segundo o testamento, se Carolina morrer, as Industrias Batista passam a me pertencer.
- Mas o problema...
- Não há problemas. Carolina deve morrer!
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