A PERSEGUIÇÃO. Capítulo 16 - Outro lindo rapaz.

O rapaz percebeu que Carolina o observava e sorriu.
- Seja bem-vinda.
- Obrigada Justin.
- Meu nome não é Justin, é Chaz. 
A voz era rouca, sexy.
- Meu nome é Carolina...- ela hesitou - Carolina Harada. Me desculpa Chaz é que você é muito parecido com um amigo meu. 
Carolina levantou os olhos e deparou com Twist a observá-la, com uma expressão irada, do outro lado da linha de montagem. Ele vai me criar problemas, pensou Carolina.
- É melhor começar a trabalhar logo - sussurou Chaz - O Sr. Twist não gosta de ver ninguem ocioso. Quer que eu lhe mostre como fazer?
- Obrigada, mas acho que já sei.
E enquanto Chaz observava, Carolina pegou os componentes à sua frente e começou a montá-los. Trabalhava com uma habilidade inata, cada movimento eficiente e rápido. Chaz ficou impressionado. Nunca vira nada parecido
- Você é muito boa. - comentou ele.
- Obrigada.
Carolina gostava de trabalhar com as mãos. Mas sabia que, com o passar do tempo, acabaria entediada com aquele serviço. Seu cérebro precisava de algo mais desafiador. Agora, é claro, isso não tinha importância. Estava ali porque era seguro, trabalhando em sua própria companhia, disfarçada como uma dos operários. Os dedos efetuavam a montagem de forma automática, enquanto a mente se desviava para outras questões. Haveria um problema quando deixasse de apresentar o cartão de seguridade social. Outro problema seria o de encontrar um lugar para morar. Restava bem pouco dos cem dólares que ganhara na corrida, só receberia o primeiro pagamento dentro de uma semana e os poucos dólares de que dispunha não durariam por tanto tempo.
[...]
Havia um intervalo para o café durante a manhã e outro à tarde. No intervalo da tarde, Carolina fez questão de vaguear pela fábrica, a fim de ter uma noção do lugar. Conversou com alguns operários, pareciam competentes interessados no trabalho. Com suas perguntas aparentemente casuais, Carolina descobriu que se sentiam felizes e orgulhosos por trabalharem ali. Meu pai ficaria satisfeito por isso, pensou Carolina. Até onde ela podia perceber, o único problema era o capataz, Lil Twist. Era um algoz, os operários tinham medo dele, tentavam evitar sua ira. E outra vez Carolina se perguntou como o Sr. Twist conseguira o cargo de capataz. Quando ouviu Twist gritar agressivo com uma mulher, que cometera um pequeno erro, Carolina desejou interferir, mas sabia que tinha de permanecer tão quieta quanto possível e tentar escapar a qualquer atenção.
Uma campainha tocou às cinco horas, e os operários encerraram o expediente. Foram para o vestiário, onde trocaram o jaleco branco por seus paletós e casacos. Carolina observou Chaz vestir seu casaco. Ele era muito lindo. E Carolina decidiu que haveria de conhecê-lo melhor.
Carolina saiu da fábrica junto com os outros, mas havia uma grande diferença: eles tinham uma casa para onde ir. E ela não tinha nenhum lugar em que pudesse se abrigar. Não podia correr o risco de ficar nas ruas à noite. A polícia estaria à sua procura, e Roberto também. Precisava encontrar um quarto. Foi andando por ruas transversais, até encontrar um hotel que parecia barato, com um toldo velho e rasgado na frente. Carolina entrou no saguão. Dava a impressão de que havia anos que não era limpo e exalava o cheiro bolorento da derrota. Por trás do balcão estava um recepcionista entediada, lendo um livro que tinha uma mulher nua na capa. Carolina adiantou-se.
- Com licença. Tem um quarto vago?
O recepcionista acenou com a cabeça, sem levantar os olhos.
- Tenho.
- Quanto custa, por favor?
- Quer para um dia, uma semana, ou um mês?
Carolina se perguntou como alguém suportaria viver num lugar assim durante um mês.
- Por uma semana.
O recepcionista levantou os olhos.
- Dez dólares por uma noite, sessenta dólares para a semana. Pagamento adiantado.
Carolina calculou que consumiria todo o dinheiro que lhe restava, mas não tinha opção. Estava segura agora durante o dia, mas precisava de um lugar para se refugiar à noite.
- Está certo. Fico com o quarto.
O recepcionista tirou uma chave de um gancho e estendeu para Carolina.
- Tem bagagem gata?
- Não.
O rapaz não se mostrou surpreso. Carolina especulou que tipo de pessoas viviam naquele lugar. As perdidas e derrotadas. As que haviam desistido da vida.
- Quarto 217, segundo andar.
- Obrigada.
Carolina virou-se, subiu a escada. O carpete era puído e rasgado, as paredes se achavam cobertas de grafites: "Jared esteve aqui, mas foi embora. Não podia suportar o fedor", "Mary ama John, John ama Bruce", "Socorro! Tirem-me daqui!", "Paraíso das Baratas".
Por mais sujo e desleixado que fosse o saguão, a escada e o corredor não prepararam Carolina para seu quarto. Durante toda a sua vida tivera um quarto adorável, grande, limpo e arejado, com uma linda vista dos jardins que havia na sua casa na grande São Paulo. Aquele quarto era pouco maior que um closet, imundo e assustador, com uns poucos móveis ordinários e escalavrados, uma janela com o vidro quebrado e dando para um parede de tijolos. O pequeno banheiro continha uma pia encardida, um vaso com a tampa de plástico empenada e um boxe em que mal se podia ficar de pé. A roupa de cama parecia não ter sido trocada há uma semana. Carolina olhou ao redor, sem saber por quanto tempo conseguiria suportar aquilo. Ora, viveria um dia de cada vez.
[...]
Não lhe restava dinheiro para o jantar, e ela não queria andar pelas ruas, onde alguém poderia reconhecê-la. Por isso, permaneceu no quarto tentando planejar o futuro. Avaliou os problemas com que se defrontava:
1. Não tinha dinheiro.
2. Não tinha amigos.
3. Estava num país estranho.
4. A polícia a procurava por um assassinato que não cometera.
5. O tio a procurava para matá-la.
A situação era tão ruim que Carolina quase riu. Podia parecer desesperançada para outra pessoa, mas ela era Carolina Batista, a filha de Eike Batista, e nunca desistiria.
Não enquanto estivesse viva.

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