A PERSEGUIÇÃO. Capítulo 15 - Talvez seja um reencontro.

- Desculpe, filha, mas só contratamos empregados experientes.
Carolina não podia aceitar um não como resposta. Sua vida dependia disso.
- Mas sou experiente, senhor. - Havia desespero na voz de Carolina. - Por favor, experimente-me.
- Eu não...
A porta foi aberta nesse momento e um homem em mangas de camisa entrou na sala com uma pilha de papéis.
- Pode mandar isso para Tony?
- Claro. - Watkins disse. - Essa garota aqui alega ser um gênio em eletrônica. Não quer lhe fazer algumas perguntas?
O homem olhou para Carolina.
- Está certo.
Watkins tornou a se virar para Carolina.
- O Sr. Davis é nosso engenheiro-chefe.
- Já trabalhou com equipamentos eletrônicos? - Indagou Davis.
- Já sim, senhor.
- Sabe como montar um sistema de circuito?
- Claro, senhor.
Era um terreno seguro, falar sobre uma coisa que conhecia e adorava. Carolina falou devagar, tomando cuidado ao traduzir os termos técnicos do português para o inglês.
- Começa-se com o quadro vazio. O circuito desejado é fotografado nele, depois se acrescentam os componentes. Consistem em transistores, resistores, capacitores e CIs, que são os mini-circuitos integrados. O quadro é mergulhado num banho ácido, para se remover todo o resto. Depois...
- Já chega! - Disse o Sr. Davis, levantando a mão. Ele virou-se para o Sr. Watkins.- Ela não apenas sabe do que está falando, mas também daqui a alguns meses estará se candidatando ao meu emprego. Boa sorte, garota.
O Sr. Davis se retirou. Watkins disse a Carolina:
- Parece que você conseguiu o emprego.
O coração de Carolina disparou de alegria.
- Obrigada, senhor.
- Precisamos de alguém na linha de montagem. O salário é de duzentos e cinquenta dólares por semana, para começar.
Carolina converteu para reais. Em uma semana, ganharia o suficiente para a viagem à California. Watkins continuou a falar:
- Preciso do seu cartão de seguridade social.
Carolina ficou atordoada. Não tinha o cartão.
- Eu... hã... - Carolina pensou depressa. - Esta com meu pai. Ele viajou. Vou trazê-lo assim que ele voltar.
Watkins deu de ombros.
- Tudo bem. Providenciarei tudo para você começar logo. - Ele olhou atentamente para o rosto de Carolina. - Você nunca trabalhou aqui antes, não é?
- Não, senhor.
- Engraçado, seu rosto me parece bastante familiar.
E Carolina sentiu uma pontada de medo.
O interior da fábrica Batista era espaçoso, limpo e eficiente. Em circunstâncias normais, Carolina sentiria o maior orgulho ao pensar que tudo aquilo fora criado por seu pai. Aquelas pessoas deviam seus empregos a Eike Batista, só que Carolina não pensava nisso agora. Aquele lugar não era uma fábrica para ela, mas sim um esconderijo temporário, um refúgio.
Havia cerca de cem operários na linha de montagem, muitos japoneses. Homens e mulheres trabalhavam lado a lado. Carolina foi apresentada ao capataz, um homem pequeno, de rosto fino e antipático. Seu nome era Lil Twist, e Carolina sentiu uma aversão imediata.
Twist levou Carolina para o vestiário e jogou-lhe um jaleco branco.
- Pode vestir. Sempre usará isso quando estiver na linha de montagem. Entendido?
- Sim, senhor.
- Venha comigo.
Voltaram à linha de montagem, Twist apontou para um lugar vazio.
- Você vai trabalhar ali. E não cometa erros, entendido?
- Entendido, senhor.
- Pode começar.
Carolina observou o capataz se afastar e parar para passar a mão na bunda de uma das moças. Ela se esquivou, disse alguma coisa, irritada, Twist riu, continuou andando. Carolina ficou indignada. Como um homem assim podia ser promovido a capataz? Se Carolina pudesse se pronunciar a respeito, Twist seria despedido. Mas é claro que Carolina não podia dizer coisa alguma. Tinha muita sorte por estar trabalhando ali.
Ela virou-se, estudou a linha de montagem. Era exatamente como a fábrica em São Paulo. Era essa a vantagem da produção em massa. Poderia ir para qualquer das fábricas Batista espalhadas pelo mundo e sempre saberia como operavam.
Observou os circuitos impressos serem fotografados no quadro e o ácido remover todo o resto. Buracos eram abertos no quadro, os componentes acrescentados, a montagem seguida numa correia transportadora para uma tina solda, em que tudo se tornava preso ao quadro. Era uma operação que Carolina já vira mil vezes.
O lugar de Carolina na linha de montagem era entre uma mulher de meia-idade à esquerda e um rapaz à direita. Ambos não eram japoneses. A mulher virou-se para Carolina e disse:
- Seja bem-vinda.
- Obrigada.
Carolina olhou para o rapaz e seu coração quase parou. Era a coisa mais linda que ela já vira. Tinha um rosto que não era desconhecido para Carolina, logo a garota se tocou de quem se tratava. Justin! Não estava acreditando que ele estava ali do seu lado, não poderia ser. 

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